Desde que Lula se tornou alvo explícito da Operação Lava-Jato, seus adversários – honestos ou não – são beneficiados pela publicação intensa de investigações ainda imaturas sobre o ex-presidente e vazamentos precipitados de escutas telefônicas. Abandonando a imparcialidade, a Justiça deu lugar ao oportunismo político.
Embora não condenados, Lula e Dilma são encarados por parte da população, municiada diariamente pelo sensacionalismo tendencioso da imprensa, como patrocinadores da corrupção nacional, os “chefes do esquema”, aqueles que devem pagar agora, já, com prisão e impeachment. Não é o mesmo equilíbrio judicial, preciso, que prendeu grandes empresários e um senador em exercício habituados a usar o país como moeda de troca.
Enquanto o Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam indícios de que Lula recebeu vantagens indevidas de empreiteiras envolvidas no Petrolão, há delações e documentos incontestáveis que provam que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, guardou sua parte roubada da Petrobras em contas na Suíça. Livre e solto, gozando relativo relaxamento por parte da opinião pública, Cunha conduz na Câmara o pedido de impeachment por crimes de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff. Aproveita idêntico conforto o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, maior opositor ao governo federal e principal beneficiado pela queda de popularidade dos governistas. Aécio foi citado em pelo menos três delações premiadas, sendo a última do senador licenciado Delcídio do Amaral, como participante de falcatruas na estatal Furnas e destinatário de propinas pagas pela empreiteira UTC.
Dividiu o Brasil em dois lados previsíveis o desequilíbrio do Judiciário aliado à velocidade de transmissão de informações da atualidade, frequentemente veiculadas por redes de comunicação controladas pelo mesmo conservadorismo. Raposas velhas do Congresso, oportunistas, igualmente conservadoras, perceberam a hora ideal para atacar.
Movidos por instinto de sobrevivência, Dilma e o Partido dos Trabalhadores tomaram a deprimente decisão de nomear Lula como ministro da Casa Civil, alguém que foi Presidente da República por 8 anos e jamais deixou de influenciar sua sucessora. Tentam mantê-lo no posto, após seguidas suspensões de posse, com o intuito de formar uma trincheira à esquerda, confirmando a inaptidão da presidente Dilma para gerir crises, tanto econômicas quanto políticas.
A Lava-Jato produziu mais frutos no combate à corrupção do que qualquer outra operação na história do Brasil, independentemente da pressão do povo nas ruas pedindo as cabeças dos investigados (resultante do vergonhoso circo midiático). A Política adora a comédia circense, principalmente quando o palhaço no centro do picadeiro é adversário antigo. À Justiça não cabe incentivar nem aplaudir espetáculos.