A menina e o lobo

Vana tinha mais energia, coragem e orgulho do que normalmente apresentam meninas de 12 anos de idade. Enquanto suas amigas temiam caminhar na floresta à noite, as longas andanças de Vaninha quando o sol se punha eram amplamente criticadas na pequena vila onde morava: o lobo podia atacá-la de uma vez por todas num desses alegres passeios noturnos.

Aconteceu. Vana aproveitou a distração de sua mãe, que tentava conter o ímpeto aventureiro da filha, e saiu de casa em silêncio para observar a lua, colher amoras e ouvir o som do riacho. Vendo aquela linda menina de vestido rodado dando “sopa”, o lobo faminto a atacou e matou.

Audaciosa, Vaninha ainda encarou seu algoz antes de ter a carne dilacerada:

– Por que não ataca os garotos que passam por este mesmo caminho durante o dia? Implicou comigo por que meu vestido é vermelho?

Muitos moradores do vilarejo culpam o lobo. Chamam-no de cruel, doente, injusto. Dizem que mata por prazer, não pra comer. Vaninha perdeu a vida – algo certamente abominável, triste e alarmante. A notícia chegou às comunidades vizinhas que não compreendem como deixaram uma menina de 12 anos andar na floresta à noite e sozinha.

Outros camponeses defendem o animal. “Ele seguiu seus instintos para saciar sua fome, não tem sentimentos”. Histórias de ataques são populares, o povoado inteiro considera as noites inseguras. “A menina conhecia o risco que corria, mas desafiou a fera. A culpa é dela”, alegam os defensores do lobo.

Quando lados opostos defendem veementemente, com lágrimas, pontos de vista antagônicos, um evento grave e maior do que o tempo presente se inseriu na História. Comentou-se a morte de Vaninha por semanas, discutiu-se como evitar outras tragédias. E se os dois lados tiverem razão? Não significa que perdas e ganhos sejam iguais para os dois.

Vana foi atacada, mas não era inocente. Amadurecia cada vez que saía de casa escondida à noite e dedicou sua curtíssima vida aos mais puros desejos infantis. Aos 6 anos de idade, curiosamente, ela queria ser uma loba. Não há crime na menina ou no lobo, nem em quem se entrega de corpo e alma às implacáveis leis da natureza.

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