É evidente a escassez de caridade no relacionamento entre as nações – para tristeza do Papa Francisco -, geralmente se destacam interesses econômicos defendidos por bons ou maus negociadores. A reaproximação recente entre Cuba e os Estados Unidos da América (EUA), um marco na História pois não dialogavam há mais de 50 anos, também foi motivada pela cobiça e beneficiará apenas os negociadores mais espertos.
Os americanos, ótimos neste jogo, sem limites éticos ou morais diante do objetivo, farejam mercados à distância, neste caso 11 milhões de cubanos, logo ao sul da Flórida, carentes de papel higiênico a artigos eletrônicos e veículos. Por sua vez, há décadas economicamente enfraquecido, o governo comunista cubano certamente pensou “A revolução provou que é forte e independente, precisamos nos aproximar agora”. Na verdade não é fácil sustentar um povo a pão e água por tanto tempo.
Finalmente, engolir o orgulho permitiu o restabelecimento das relações diplomáticas, concretizadas dia 20/07/2015 com a reabertura da embaixada cubana em Washington. A construção de novos acordos comerciais (normalmente o objetivo final entre nações) levará algum tempo, no entanto, as discussões sobre antigos entraves já começaram: Cuba exige a devolução do território ocupado de Guantánamo, o fim do embargo econômico, US$ 100 bilhões em compensações pelo bloqueio e a suspensão do apoio aos dissidentes políticos. Os EUA reclamam o respeito aos direitos humanos e indenizações pelas expropriações de empresas e bens de cidadãos americanos. Aliás, os Estados Unidos contam com a primeira vitória da reaproximação: o compromisso cubano de permitir a livre interação dos diplomatas americanos com a sociedade civil, canal de informação e influência seguro sobre o atual cenário político e econômico de Cuba.
Os Estados Unidos conseguiram se aproximar do regime castrista agora porque o Estado e a economia cubana estão debilitados o suficiente e a ganância americana soube tirar proveito. Tanto que nenhuma demanda inicial prevê benefícios diretos ao povo cubano, oprimido pela ditadura e tecnologicamente atrasado, cuja renda média é de US$ 20 por mês. Muitos cubanos, inclusive daqueles vivendo em território americano, pelo menos se confortam ao esperar que a mudança na política externa dos velhos inimigos traga dias melhores.