Com o lema “Melhor o certo do que o duvidoso”, o partido Cidadania confirmou na quinta-feira (10) a candidatura de José Luiz Nanci à reeleição como prefeito de São Gonçalo. Como a única coisa certa nesse mandato que está acabando foi a ausência de iniciativas para amenizar os graves problemas do município, a candidatura de Nanci é um atentado público, uma tentativa de continuar impedindo que o Poder Executivo sirva ao desenvolvimento social e econômico gonçalense.
Recebendo salário de prefeito desde janeiro de 2017, Nanci jamais se comportou como tal. Sequer foi capaz de falar de acordo. Não que devesse ser um orador articulado, mas dizer as palavras necessárias. Nanci fez o contrário e chegou a reclamar publicamente a respeito do peso do cargo, deixando claro que não sentia estímulo algum por ele.
O cargo pesa e mantém Nanci paralisado porque ele não distribui responsabilidades e não cobra dos secretários o mínimo que cada um deveria cumprir nas suas pastas. A Cultura deveria ter entregue as chaves do teatro municipal a um coletivo artístico popular antes da pandemia, ao invés de pendurá-las no gabinete do secretário às vésperas das eleições. Alimento das crianças mais pobres da cidade, a Educação não devia ter deixado a merenda escolar estragar, conforme denúncias recebidas pela Câmara de Vereadores. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico poderia ter apoiado o pequeno empresário durante o isolamento, inclusive o camelô que luta pelo sustento da família. Nanci parece uma peça de xadrez, ora movida pela superpoderosa primeira-dama, e agora pelo Cidadania. Uma vez posicionado, permanece imóvel, aguardando o próximo movimento de quem o controla ou a captura pelo adversário.
Não podemos dizer que o governo Nanci fracasou. Ele não tentou nada. A salvação dos jovens desempregados se drogando nas praças passa pela criação de um conceito de cidade a partir das suas vocações. Alguém do Executivo precisa levantar a bunda da cadeira, olhar pela janela e dizer “São Gonçalo vai ensinar pintura, música e dança para a juventude e exportar cultura”. Ou “São Gonçalo será o maior polo de moda popular do Rio de Janeiro e terá uma cadeia de produção e distribuição completa para a geração de empregos”. Ou que seja algo mais inteligente, definido após pesquisa científica, cálculos, estudos e diálogo com a sociedade.
Por não empreender esse esforço, Nanci não faz jus a uma segunda chance. O gonçalense andando sob um sol de rachar na Praça do Rodo sem árvores merece saber que existe um sonho comum guiando essa cidade. O cidadão não quer ser cuidado, como diz o slogan do governo municipal. Ele quer saber a intenção para o território, de forma bem definida. Só ouvimos silêncio vindo do número 100 da Feliciano Sodré.
O Cidadania alega que Nanci mantém a cidade de pé durante a pandemia. Difícil entender o que isso significa. Quem trabalha por conta própria e quem emprega em São Gonçalo está lutando para manter suas atividades sem qualquer apoio do poder público municipal. Empresas fecharam. Parte do Centro, entre a Igreja Matriz e as proximidades com a Prefeitura, faliu. Se a cidade ainda não afundou no caos, foi pela ação das redes de ajuda mantidas por moradores.