Chorei lendo uma notícia de honestidade

Chorei com uma notícia de honestidade

Quando estacionava seu Chevrolet Prisma mês passado, um jovem de Florianópolis arranhou sem querer um Porsche Cayenne. Não achando o dono do carro de luxo para combinar o pagamento do prejuízo, deixou um recado escrito em um pedaço de papel. Ninguém viu o discreto – e caro – acidente, a consciência de Matheus o impediu de fugir da responsabilidade. Segurei a emoção quando li a notícia (G1), esfreguei os olhos antes que as lágrimas rolassem. Vivemos tempos sombrios intermináveis de corrupção, ódio e extremismo e de pouca honestidade.

O sentido mais profundo de honestidade está associado à pureza. Milhões de brasileiros clamam pela pena de morte contra crimes hediondos, defendem o espancamento público de assaltantes, inclusive menores de idade, e vibram com o sofrimento de criminosos dentro dos presídios. Onde está a pureza? Violência contra quem quer que seja é um ato desonesto de traição à natureza humana.

Confundimos honestidade com respeito ao patrimônio alheio: “Nunca roubei nada de ninguém, portanto sou honesto”, mas não é só isso. Também vai além de fazer o que é certo e pagar o que se deve. Sem pureza de alma, somos todos desonestos.

Nunca haverá um mundo totalmente livre do crime. O Brasil não se tornará um lugar melhor para viver quando os bandidos forem assassinados. A transformação acontecerá no momento em que o país atingir a maturidade necessária para tratar com respeito qualquer pessoa, de qualquer idade, raça, credo ou origem, até mesmo assassinos, estupradores e ladrões.

O pai de um dos jovens mortos na Noruega por um psicopata que vitimou 76 pessoas, em 2011, disse em entrevista ao produtor americano Michael Moore que perdoava o assassino. Queria que ele fosse preso, claro, mas lembrou que o mais importante era o desenvolvimento humano da sociedade norueguesa para que o atentado não se repetisse.

Se os direitos universais e constitucionais à educação, saúde, lazer e segurança fossem amplamente garantidos no Brasil, não apenas para quem pode pagar por eles, veríamos menos assassinos e ladrões nas ruas. País líder em educação, expectativa de vida e renda per capita, na Noruega os índices de criminalidade são baixíssimos.

Matheus não precisou pagar a conta. Surpreso com a atitude do assistente de 21 anos, o dono do carro perdoou o prejuízo de R$ 8,5 mil. Não sei o que Matheus pensa sobre a pena de morte, motoristas que atropelam e fogem sem prestar socorro e malas com propinas milionárias pertencentes a políticos corruptos. Através dele se transformou em notícia, pelo menos, um belo exemplo de honestidade.

Deixe uma resposta