Cidade jamais planejada

A Praça do Rodo, segunda mais importante de São Gonçalo, no centro de um intenso polo comercial, não possui uma árvore sequer, onde alguém possa se abrigar do sol escaldante. Seus bancos são desconfortáveis e imundos. E no meio da praça existe um mastro de ferro gigante inútil, dinheiro público gasto desnecessariamente. São Gonçalo completou 125 anos de emancipação política, contudo, jamais contou com o planejamento necessário para investir em qualidade de vida e fornecer benefícios fundamentais aos gonçalenses.

Diz a História que o loteamento desenfreado do território, desorganizado, que visava apenas o lucro, foi duramente combatido na década de 60 pelo político local mais famoso, Joaquim de Almeida Lavoura. Ele certamente perdeu a luta. São Gonçalo é inacessível a si mesma. Fazendas e grandes terrenos se transformaram em bairros isolados, confusos e ineficientes, como Santa Izabel, sem ordenamento físico entre as áreas de moradia e comércio, desprovidos de opções de lazer e emprego e de vias suficientes para o escoamento da população em direção ao trabalho.

O mínimo de urbanização que a cidade conhece está na rua Feliciano Sodré, principalmente no trecho onde fica a prefeitura. O asfalto é bom, o semáforo funciona, há lixeiras nos postes (e elas não transbordam), as calçadas são razoavelmente niveladas e alguns arbustos foram plantados. De resto, desenvolveu-se um corredor apertado, com estabelecimentos comerciais nas laterais e carros e ônibus espremidos no meio, onde antigamente passavam as linhas de bondes.

Toda cidade é um sistema interdependente que deve estar bem conectado para servir aos seus habitantes. No município gonçalense, vias terrestres foram criadas no passado segundo a necessidade do momento, hoje ultrapassada, nenhuma adaptada ao crescimento urbano. Através dessas vias, a bordo de ônibus sujos e quentes, circula a segunda maior população do estado do Rio de Janeiro, gastando mais de uma hora no trânsito e pagando mais de uma passagem para atingir certos destinos internos.

O Brasil inteiro não é desorganizado. Cidades agradáveis existem e São Gonçalo deveria ser uma delas, se o desenvolvimento e pioneirismo agroindustrial que experimentou até metade do século 20 fosse revertido em planejamento urbano e obras sociais.

Um crime se repete em São Gonçalo, seguidamente bombardeada com ignorância política, a cada governo municipal. Praças são abandonadas, destruídas ou vendidas, não temos ciclovias, o ar é impuro, a poluição visual e sonora incomodam, não há espaços para pessoas aqui.

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