Dá pra ser bairrista morando em São Gonçalo?

Dá pra ser bairrista morando em São Gonçalo

São Gonçalo tem problemas graves. Assassinos e exploradores ocupam os postos mais altos do poder político. No maior bairro comercial da cidade, famintos se reúnem perto do Rio Alcântara todas as noites para receberem doação de comida. Nos bairros dominados pelo crime, traficantes expulsam famílias dos imóveis que trabalharam para conquistar. E a polícia invade comunidades matando adolescentes brincando em casa com os amigos. Os problemas são horríveis. Mas, é possível, e necessário, ser bairrista em uma cidade maltratada.

O dicionário Houaiss diz que bairrista é aquele que “defende com entusiasmo os interesses do seu bairro ou da sua terra”. Luziane, esposa de Durval, defendeu com entusiasmo o fim do racismo caminhando da Praça Zé Garoto à Prefeitura de São Gonçalo. Bairrismo não têm relação com alegria ou com a beleza do lugar. Luziane passou mal de tristeza, a emoção e o sol provocaram tonturas, mesmo assim ela seguiu dedicada. As vítimas da violência e da injustiça não raro são exemplos de defesa de um lugar melhor.

Muitos gonçalenses se esforçam para que a vida na cidade seja um pouco menos dura. Em respeito a essas pessoas, podemos desenvolver o mínimo de afeição pelo território explorando ele. Qualquer gonçalense será bem-vinda se entrar no Bistrô Cultural D’Avó, pegar um livro do acervo e sentar na sombra da varanda. Depois, se quiser, pode comprar um café. O Bistrô existe para espalhar arte e cultura. O mesmo vale para a Livraria Ler é Arte. A gerente da livraria está lá de segunda à sábado, ansiosa por uma conversa. Sua visita tem tanta importância quanto um livro vendido porque o nome da livraria será levado junto com você para onde for.

Todo dia tem roda cultural acontecendo em alguma praça de São Gonçalo com grafite, rap, literatura, dança, malabarismo e outras manifestações artísticas. De graça, como a amizade, o papo saudável e a brincadeira (muito séria, por sinal) na Confraria do Botão. Se você não gosta de cultura, de conversar nem de jogar futebol de mesa, a culpa de não ser bairrista não é de São Gonçalo.

Dá pra fazer caminhadas agradáveis na cidade, como na Área de Proteção Ambiental do Engenho Pequeno. Praticar esportes ao ar livre no Centro de Tradições Nordestinas, por exemplo. Ou apenas circular pelas ruas, respirar e sentir a rotina do povo. Se for pra gastar, dá pra fazer isso aqui também porque a cidade é sua, sua, ainda que o rodízio de carnes na vizinha seja melhor. Dá pra tomar cerveja ou Mineirinho e comer peixe na Praia das Pedrinhas, embora selfies em outras praias ganhem mais curtidas. Dá pra rejeitar os demais shoppings da região, inclusive aquele que vende um sorvete italiano de outro mundo, e adotar o picolé mexicano do Shopping da BR.

A programação do Teatro Municipal está intensa. O número de cafés espalhados na cidade só aumenta. Dá pra defender São Gonçalo com mais entusiasmo e construir uma cidade melhor.

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