Foi uma cafeteria nova, bacana, perto da Prefeitura, que três figuras de importância na política de São Gonçalo escolheram como ponto de encontro para um bate-papo na última terça-feira. O tema da conversa foi a disputa do governo municipal ano que vem, diante da ameaçadora ascenção nacional da extrema-direita. Logo após a reunião, elas repetiram a mesma palavra de ordem, de maneira até poética, com doses de utopia: unidade. “Em favor da democracia, dos direitos sociais e da participação popular”, defenderam nas redes sociais. Mas em pouco tempo os participantes do encontro provaram que ainda não estão prontos para ceder, quando qualquer união exige entrega.
Isaac Ricalde (PCdoB), Josemar Carvalho (PSOL) e Marlos Costa (PSB) têm perfis e qualidades diferentes. A conversa entre eles, por si só, pode ser comemorada porque significa, em poucas palavras, o diálogo entre a juventude, o conhecimento teórico e técnico, a maturidade política e a dedicação, que dura décadas, pela educação e pela população carente da cidade. É um “projeto novo”, nas palavras de Isaac, que constrói “esperança”, como afirmado por Josemar. Conjunto que raramente se vê em São Gonçalo.
De uma reunião assim, não se esperava nada menos do que a escolha de um nome único que representasse tal aliança. Por outro lado, o PSOL foi rápido e direto e apresentou, em nota oficial publicada dois dias depois, o Prof. Josemar Carvalho como pré-candidato à Prefeitura de São Gonçalo. No entanto, mantendo o diálogo aberto com os setores interessados na construção de “uma candidatura política comum”. No dia seguinte à manifestação do PSOL, foi a vez de Marlos Costa e do PSB defenderem a necessidade de uma candidatura do próprio partido a prefeito. Caminho que, aliás, foi trilhado pelo PCdoB há quase dois meses, quando a direção municipal aprovou, por unanimidade, a resolução que estabelece que o partido terá candidatura própria ao governo municipal.
No fundo, o eleitor gonçalense mais coerente não ganhou nada além de esperança. Não é pouco, mas está longe de ser suficiente para evitar que a cidade seja esmagada nas próximas eleições pelo rolo compressor do ódio e da estupidez que defende desmatamento e execução de seres humanos como medidas de desenvolvimento econômico-social. Por exemplo, Filippe Poubel, pré-candidato do PSL, trabalha a todo vapor publicando nas redes sociais pelo menos cinco notícias falsas por dia contra os partidos ligados à esquerda. Partidos que ainda não decidiram se pagarão o preço da união pelos valores que dizem que defendem. O nível de engajamento e a quantidade de pessoas enganadas pelo PSL ultrapassa dezenas de milhares.
Me pergunto que diferença faz para São Gonçalo a inauguração de um café no Centro da cidade onde o lanche pode custar, facilmente, mais de R$ 10. O gonçalense com filhos pra criar, sem carteira assinada e lutando pra sobreviver compra um salgado e um refresco por R$ 2,50 nas barracas de rua, temperadas pela fuligem do escapamento dos veículos. A importância para o município, na verdade, não é determinada pelo valor do lanche, mas pelas decisões que são tomadas enquanto se come. PCdoB, PSB e PSOL reúnem as propostas mais alinhadas às necessidades históricas do município, porém, por enquanto decidiram continuar partidos.