Dezenas de mulheres (algumas grávidas), homens e crianças de todas as idades, famintos e sedentos, morrem agora tentando atravessar o mar Mediterrâneo e chegar à Europa. Em vez de admitir a responsabilidade pela tragédia diária e acolher cada imigrante, a União Europeia (UE), friamente, fecha suas fronteiras e envia esmola aos países de origem.
Argelinos, senegaleses, nigerianos e egípcios, entre outras nacionalidades, se arriscam na travessia pressionados pela violência da guerra ou pelas condições sub-humanas de existência no continente africano. A certeza da morte breve, que dolorosamente se aproxima dia após dia, os obriga a embarcar com suas famílias nos porões escuros, sufocantes e superlotados dos barcos insalubres. Com chances, reduzidas, de alcançar a costa europeia e sobreviver, aqueles que embarcam ainda são mais sortudos do que os infelizes que permanecem em terra, condenados à penúria.
A Lei classifica como ilegal a imigração de miseráveis em busca de esperança, contudo, o direito de lutar pela vida é legítimo. Ilegal, assassina é a forma como atravessadores mercenários conduzem a imigração, e tão criminosa quanto se mostra a reação protecionista dos países europeus que exploraram a África por séculos, tanta riqueza extraíram, e têm a audácia de colocar dinheiro nas mãos de governantes corruptos, como se suborno resolvesse a vida dos povos massacrados. “Tomem esta grana aqui, segurem os ratos no seu país e calem a boca”, dizem os europeus sobre famílias que definham antes do afogamento. A moral obriga a UE a reparar sinceramente os abusos do passado criando vias seguras que permitam a entrada dos refugiados, além de estimular, imediatamente, negócios de caráter social em larga escala nos territórios debilitados, principalmente nas áreas de Saúde, Educação e Segurança.
Prova de que os defeitos humanos se estendem do indivíduo à postura política e social de um continente inteiro, a Europa reproduz a velha preguiça de ajudar; sem arrependimento, trata pessoas necessitadas como peste repugnante que invade a casa limpa e rica. Idênticas na magreza, elas morrem no auge do sofrimento, deixando a terra natal encolhidas em espaços minúsculos, abraçando as pernas como fetos rejeitados.
A fragilidade institucional, a eterna pobreza e os conflitos africanos são problemas universais gravíssimos que merecem a devida atenção dos dirigentes da UE, também pela proximidade geográfica, ainda que enfrentem a própria crise econômica. Enquanto discutem como impedir a imigração, vidas humanas afundam no Mediterrâneo.