– Boa tarde a todos. Haveno quórum, dou por aberta a sessão convidano o ilustre bispo Salvador pra fazer a leitura bíbrica. Todos de pé, por gentiliza.
– Senhor presidente… Boa tarde, boa tarde a todos. Continuo com a minha sugestão, tá presidente, pra que o senhor convide a todos os vereadores pra que eles possam fazer a leitura bíbrica, né? Cada um leia num dia. Será bom pra eles, né, e será bom também, logicamente pra todos nós, né? Tá bom?
A resposta para a sugestão é “Amém”.
– Peço, por favor, que os senhores vereadores permaneçam no prenário. Hoje nós temos a segunda votação de um projeto de lei, temos que ter quórum, no mínimo, de 14.
Ganham R$ 15 mil por mês e ainda é preciso implorar para que permaneçam até o fim da sessão e façam o trabalho para o qual foram eleitos. Eles sabem que é uma safadeza contra o eleitor. Tanto que inventaram um piadinha, que o vereador é aquele que vê a dor do povo. Quando repetem essa piada na Câmara, eles apertam as mãos sorrindo, debochando da população como adolescentes depravados.
– O que é que ele está falando, esse viado?
Vaza no áudio da TV Câmara o jeito pacífico de se expressar do vereador Eduardo Gordo. E é iniciada a votação nominal do seu projeto de criação de um crematório em São Gonçalo. É uma boa ideia, não significa que exista um projeto razoável para ela. Poderia ser incluído o benefício de cremação gratuita – após a morte, claro – daqueles que veem de perto a dor do povo gonçalense.
O presidente da Câmara, Diney Marins, narra com uma voz grossa, arrastada e sexy os últimos projetos aprovados e concessões de medalhas e títulos para puxa-sacos, atividade parlamentar mais frequente. Diney prefere o silêncio ao invés da denúncia e a moderação ao invés do ataque diante da corrupção.
Finalmente, Jalmir Junior traz inteligência e torna pública uma denúncia importante. De acordo com ela, o IDESP, organização social que administra o Pronto Socorro Central de São Gonçalo, não está pagando a empresa responsável pelo tomógrafo, que ameaça retirá-lo de operação. Há mesas de radiografias paradas e faltam médicos, embora a Prefeitura e o povo paguem à organização social em dia.
O nível cai de novo. Alguém que se diz inocente antes que qualquer crime seja apresentado já demonstra que não tem intimidade com a honestidade. Brincadeiras com o patrimônio público são feitas, a respeito de um terreno da Câmara com carros abandonados. Então o vereador Professor Paulo faz um apelo por organização e respeito às regras sobre a duração da fala de cada vereador. Eduardo Gordo não concorda, se levanta, vai à tribuna e agride Paulo a socos.
A vítima tenta concluir sua fala, a fala que apanhou para expor, mas é interrompida pelo próprio Presidente da Casa e por outro colega vereador. Desorganizada como de costume, a sessão plenária continua como se um crime não tivesse acabado de acontecer. Minutos depois, o agressor discursa e mente. Não na prisão, mas onde deveria ser a casa do povo gonçalense. É inadmissível, como bem definiu o professor Paulo.
Do início ao fim da sessão, a violência contra o povo de São Gonçalo se repete. Parte da cidade está morrendo, vendendo água e amendoim nos sinais de trânsito, embaixo do sol, nas mãos de gestores que torram o dinheiro público e bandidos no lugar de políticos. Os parlamentares ainda se parabenizam pelo dia do vereador antes da sessão terminar e o vereador Samuca afirma que “essas coisas acontecem”, se referindo às porradas que um colega deu no outro.