Indiferença na fila do ônibus

Podemos ser tão insensíveis quanto solidários, mas há tempos a escolha pela insensibilidade nitidamente prevalece. O problema não se resume aos marginais que cometem crimes cada vez mais violentos e chocantes, onde nenhum respeito é atribuído a vida humana; o cidadão comum hoje vê as necessidades alheias, mas coloca a si mesmo acima delas, não importa quais sejam.

Esta semana, na fila do ônibus para o trabalho, duvidei dos meus próprios olhos quando vi aproximadamente trinta homens e mulheres adultos ignorarem um menino, portador da síndrome de Down, e sua mãe tentando embarcar. Oferecendo um exemplo de boa educação, pacientemente os dois aguardavam de pé pela oportunidade, ao lado da porta de entrada do coletivo, enquanto cada pessoa da fila passava por eles, como se não existissem, e subia as escadas.

Não é novidade que a prioridade no embarque e nos assentos do veículo pertencia ao menino, que devia ter uns seis anos, e a sua mãe que o acompanhava. Além da legislação que defende os direitos dos portadores de necessidades especiais, o bom senso prega que os demais aguardem pacientemente seu embarque, e não o contrário. Dentro do ônibus, ficou claro que a única necessidade do garoto era um pouco mais de espaço para se expressar, espaço que lhe foi privado porque ele viajou sentado no colo da mãe, no banco mais próximo do corredor, no meio do veículo lotado de passageiros, quando teria sido bem mais confortável viajar no assento destinado a ele, o primeiro do ônibus, com a mãe ao lado.

Como não suportamos viver isolados e dependemos do bem-estar comum, tenho certeza que a insensibilidade não é prática natural humana. Ela é parte da grande escolha errada que fizemos por uma vida árdua dedicada a produzir mais do que precisamos consumir.

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