O Brasil para leigos

O Brasil é um país de território gigantesco – 8,5 milhões de quilômetros quadrados – habitado por mais de 207 milhões de pessoas. Metade dos brasileiros tem renda menor do que a considerada mínima para a sobrevivência digna. Cinquenta e dois milhões estão completamente afundados na pobreza (Veja). Dormem sem saber o que comerão no dia seguinte e frequentemente não comem nada.

A maior parte da população se identifica como negra ou parda quando entrevistada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quase 30% da renda nacional está nas mãos de apenas 1% dos habitantes, a mais acentuada concentração do mundo (El País). Dez por cento da população retêm 43% da soma de rendimentos do país (G1).

O bem-estar de aproximadamente 104 milhões pessoas, metade do povo, é prejudicado pela convivência com seus próprios dejetos porque não contam com saneamento básico (G1).

Metade dos adultos não concluiu o Ensino Médio, índice que supera o dobro da média encontrada nos 41 países da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). A taxa de analfabetismo é 11,2% entre os pretos; 11,1% entre os pardos; e 5% entre os brancos (Agência Brasil).

São incontáveis as estatísticas que apontam o desfavorecimento da população negra. Apenas 24% dos políticos eleitos em 2014 se declararam pretos ou pardos. A qualidade de vida dos negros apresenta uma década de atraso em relação a dos brancos (O Globo). Além de estudarem por menos tempo – por uma questão de diferença de oportunidades, não de interesse pela educação – negros ganham salário inferior ao dos brancos, até quando apresentam a mesma graduação (Exame).

Seis milhões de negros foram “gastos” pela escravidão no Brasil até 1850 (Darcy Ribeiro, O povo brasileiro). Primeiro a padecer sob o regime escravocrata, o povo indígena foi reduzido de cinco milhões, no início da colonização portuguesa, para menos de 900 mil atualmente, de acordo com o IBGE. A natureza livre indígena não se adaptou à falta de mobilidade do trabalho forçado.

A escravidão foi o motor da economia e a sociedade patriarcal, católica, a base da nossa formação. Mulheres buscam por espaço tanto no mercado de trabalho quanto na política.

O massacre de negros e índios continua nas reservas ameaçadas e nas favelas. Em 2016 foram assassinadas, ao todo, 61.619 pessoas. A chance de um jovem negro ser assassinado é quase três vezes maior do que a de um jovem branco.

O maior país da América Latina não é feito só de números tristes. Os sociólogos se maravilham com a forma como as culturas indígena, europeia e africana se misturaram e criaram uma nova. O brasileiro dorme na rede, acorda, toma banho, café da manhã e gesticula reproduzindo hábitos herdados de três continentes. Os demais territórios colonizados mundo afora não alcançaram essa plasticidade, guardando as culturas dominante e dominada certo grau de isolamento. Riqueza que alimenta a fé dos homens e mulheres do Brasil.

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