O papel do negro nos centros empresariais do Rio

O negro não chega de helicóptero aos centros empresariais do Rio de Janeiro. Não deixa seu carro de luxo aos cuidados do manobrista. Não vai trabalhar de bicicleta elétrica, que custa mais de 6 mil reais. O negro não se desloca de camisa de gola polo branca e skate longboard novinho e chega impecável ao trabalho. Não vem caminhando de short e camiseta, direto da academia, pra tomar um banho no vestiário da empresa e começar a trabalhar.

O negro chega de ônibus lotado, suado, antes das 7h, antes de todo mundo. Troca de roupa em uma sala abandonada e empoeirada nos fundos do complexo e coloca o uniforme.

O presidente da empresa não é negro, embora seja brasileiro. Os gerentes e analistas são praticamente todos brancos. O negro não usa terno. Ele apara a grama, arranca folhas secas das palmeiras, poda arbustos. O homem que coloca os sacos de lixo em um carrinho e o arrasta para longe é negro. O manobrista que abre a porta do carro dos visitantes é negro. São negros os seguranças. É negro quem varre, limpa as privadas do escritório, enche as garrafas de café.

O elevador de serviço sobe e desce cheio de negros. O social transporta o branco. O negro anda com a colher e o balde de pedreiro na mão, fazendo pequenos reparos. Cata as folhas que caíram no chafariz na noite anterior.

Depois do expediente, o negro volta pra casa no mesmo ônibus, ele mora longe. Se espreme na porta do coletivo e quase não consegue entrar. Quem mais se dedica à limpeza e cuidado do espaço são os negros. Quem menos aproveita os serviços que dão conforto aos usuários são eles também.

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