Admitir a necessidade urgente de contribuir para o bem-estar comum é o primeiro passo para um mundo melhor. O sentimento de que nós e os pobres e injustiçados espalhados pelos continentes pertencemos à mesma raça, humana, está tão escasso que conversar sobre isto torna, imediatamente, o mundo mais justo.
Enquanto existir alguém passando fome ou dormindo ao relento, em qualquer região da Terra, teremos fracassado como espécie; porque toda desigualdade não natural entre os seres humanos é uma aberração, possivelmente provocada por vantagens adquiridas através da formação educacional, herança patrimonial, ou pelo saldo da conta bancária. Parte importante da população mundial sequer possui conta bancária.
“Trabalhei noite e dia para conquistar casa, comida, e estabilidade financeira”, alega o cidadão honesto que foge da sua última responsabilidade: agir contra a pobreza ao redor, seja na vizinhança ou do outro lado do oceano. Defender a igualdade social como único pilar da existência, dever do homem e da mulher antes de ser papel de governos, derrubará injustiças onde existam unindo as nações em torno de uma democracia global realmente participativa.
Afinal, a estratégia adotada até agora para um mundo melhor, se é que ela existe, acumula seguidas derrotas. Desunidos mas econômica e mutuamente explorados, a felicidade é conquista distante embora tenham avançado a tecnologia, a medicina e a expectativa de vida de alguns povos. Curiosamente não abandonamos o processo errôneo de produção e consumo desenfreado, causador de danos irreversíveis ao meio ambiente no último século, para tentar algo diferente, como a prática da caridade no cotidiano. Longe de ser um apelo religioso, mas em prol da atrasada conversão da modernidade em qualidade de vida abrangente.
Qualquer ser vivo busca o mesmo que nós, sobrevivência. Quando o luxo individual adquire mais importância que a satisfação coletiva, inclusive dos miseráveis escravizados para a manutenção deste luxo, como os garimpeiros de pedras preciosas no continente africano, intencionalmente negamos nossa continuação. Se desigualdades existem há milênios, há bastante tempo erramos, maior é a obrigação de corrigir o rumo.
A lembrança de fazer parte de uma espécie animal que evolui apenas em comunhão consigo mesma, solução para as graves angústias da atualidade, chega a ofender algumas pessoas. Não se reconhecem como bichos. Preferem as ilusões ridículas, desprezíveis, descartáveis que veem nas vitrines das lojas, tentativa vã de fabricar e vender “felicidade”. O resgate da essência humana, que respeita os anseios básicos do instinto, entre eles a compaixão, traz o verdadeiro progresso.