O vendedor ambulante pode ser visto como sinal de atraso da infraestrutura comercial e de serviços de São Gonçalo. Afinal, o primeiro shopping center da cidade foi criado há apenas 13 anos. Edifícios comerciais com mais de 3 andares são escassos até no Centro do município. O vendedor que atua de porta em porta, na verdade, não tem nada de atrasado. Ele traz, pontualmente, um contato humano ímpar que alegra o coração.
O trabalho é cansativo, mal remunerado, o sol castiga. Mas é parte do patrimônio social gonçalense. O ambulante também tenta se modernizar. Anos atrás caminhava carregando nas costas mais produtos do que um trem é capaz. Panelas, redes de dormir, artigos de cama, mesa e banho, cadeiras de ferro revestidas com tiras de borracha verde, azul e vermelha e por aí vai.
Frutas e alimentos diversos estão entre os produtos oferecidos. Hoje o ambulante pedala bicicletas carnavalescas, com guarda-sol colorido. Dirige carros podres, caindo aos pedaços, kombis e caminhonetes. Todos os meios de transporte trazem seu característico sistema de som integrado. A propaganda é a alma do negócio e a dona de casa a ouve chegando de longe.
Tem ovos e tem abacaxi
Essa melancia é docinha, diurética, faz bem pra qualquer idade
Tem abacaxi, melancia e laranja no saco
Tem laranja no saco, pode vir, meu senhor
Leva uma cartela com 30 ovos, paga 10 reais
O preço é bom, a mercadoria é de qualidade
Vem pra cá, minha senhora
Sabia que o ovo é o mais completo alimento para o ser humano?
É ovo, é ovo, é ovo
Por duas semanas seguidas minha esposa comprou essa bendita bandeja com 30 ovos. “A promoção está boa e eu preciso bater uns bolos”, ela justificava. Não aguento mais ver ovo na minha frente.
Tenho uma curiosidade enorme: os vendedores ambulantes são privilégio das ruas de barro das comunidades ou circulam pelo asfalto dos endereços nobres, onde moram secretários de governo e vereadores?
Quando ouvir de novo um divertido vendedor ambulante empurrando a bicicleta ou dentro de um cacareco sobre rodas, você sentirá orgulho da capacidade criativa do gonçalense se puxar um papo com ele.