Os mistérios de Neilton Mulim

Neilton Mulim da Costa, prefeito de São Gonçalo, é um homem de currículo invejável. Aos 24 anos já exibia duas licenciaturas, Ciências Físicas/Biológicas e Matemática, e em 1996 conquistou sua primeira eleição para vereador da cidade que hoje administra. Desde então, há quase 20 anos Neilton acumula sucessivas vitórias e experiências em cargos públicos, inclusive dois mandatos como deputado federal. Por que este homem instruído descumpriu cada promessa de campanha e evita a menor reação para livrar São Gonçalo do atraso? É um mistério angustiante.

Apenas 7% dos adultos gonçalenses cursaram o Ensino Superior (Atlas Brasil 2013). Neilton Mulim é um deles. Como alguém íntimo da Matemática, professor de ciências exatas durante anos, pôde corromper as finanças da cidade? Ainda em 2015 a Prefeitura já gastava a receita pertencente a 2016. Qualquer dono de bordel sabe que isto traz maus resultados, quanto mais um ex-diretor de escola estadual. Não é pura burrice, não podemos acusar Mulim de não saber calcular. Se fosse desorganização da equipe fazendária, culto, pós-graduado em psicopedagogia institucional, Neilton teria ensinado conceitos matemáticos simples e influenciado as pessoas a trabalhar corretamente. Gastar, gastar e gastar mais do que arrecada e tirar dinheiro de onde não deveria, como do Carnaval genuinamente gonçalense, corrói o corpo e a alma deste município. Cabe, por fim, a deliberada intenção de afundar São Gonçalo em dívidas e o fato de ter a própria irmã como secretária chefe do seu gabinete corrobora a hipótese de que competência e transparência não são valores cultivados pelo prefeito.

Como alguém que foi vereador por três mandatos seguidos e conhece bem os maiores problemas da região não criou um programa inteligente para combatê-los? As ruas imundas fedem, as crianças odeiam o ensino municipal, as drogas são as melhores amigas dos jovens e continuamos uma cidade ridiculamente pequena, baseada na informalidade da Prefeitura ao camelô, apesar de ultrapassarmos 1 milhão de habitantes.

Por que um ex-deputado que frequentou Brasília entre 2007 e 2012 comete erros crassos como não licitar a coleta de lixo? E deixa de pagar as multas aplicadas por falta de licitação, solicita o parcelamento do débito e também não paga as parcelas que ele mesmo pediu? É outro mistério, Mulim. Facilmente encontrado em indivíduos de má índole.

Que manobra incrível concebeu para prometer a passagem municipal a R$ 1,50? Hoje são cobrados R$ 3,45 por trecho e tem cidadão gastando o dobro para atingir o destino desejado. Neilton, o professor, certamente não errou o cálculo.

Igualmente misterioso é o fato do prefeito não se dirigir à população. Portador de um discurso maduro, claro e objetivo que auxiliou na sua rica trajetória, Mulim dificilmente teria medo de falar em público. Ele não se entregou por inteiro à missão, não se dedica sinceramente ao povo que o acolheu. Se pensa o contrário e até agora nada mudou em São Gonçalo, seu fracasso é outro mistério, explicado talvez pela inaptidão absoluta para governar.

Acho indelicado chamar de mentiroso, corrupto ou safado um prefeito eleito democraticamente e no exercício do poder, embora a população gonçalense grite tais adjetivos há tempos.

8 comentários em “Os mistérios de Neilton Mulim

    1. A gestão anterior (igualmente criminosa) fingia melhor que a atual, Leonardo. Mulim não se explica com o povo, por isso não existe qualquer esperança de renovação.

  1. Ótimo e elucidativo texto, meu caro. Como disse o Leonardo ali em cima, essa gestão faz as anteriores parecerem até sensatas. Eu vi Bravo, Charles, o segundo mandato de Aparecida… Mas Neilton está de parabéns, conseguiu ser pior que todos eles.

    1. Muito obrigado, Rodrigo! Atingimos o abismo mais profundo com Neilton: não há mais esperanças, o principal gestor da cidade não se comunica com o povo e com o silêncio absoluto ele assume todas as mentiras que disse na campanha eleitoral.

  2. A trajetória do “prefeito-intelectual” lembra-me muito a do Dr.Charles.Este também um homem versado, altruísta, com um discurso “maduro” mas que na prática também dilapidou as finanças gonçalenses e perpetuou todos os problemas pretéritos a sua administração. Esses políticos, me parece, tem uma ideia de que o cargo executivo, onde ele pode abertamente lidar com verbas, licitações ( ou a dispensa delas), cria a possibilidade de uma razzia nos cofres públicos, um assalto desordenado, com o objetivo de se criar um rico patrimônio no menor espaço de tempo. Algo que no Legislativo não é tão fácil assim. Por isso, creio que o nobre prefeito não conte com sua reeleição mas é sabedor que em dois anos ele recupera seu posto no legislativo, na Alerj ou mesmo em Brasília, levado pela população que hoje compõe os seus altos níveis de rejeição. Se há algo que definitivamente não existe nesse país se chama memória.

    1. Diferentemente de todos os que deixaram seus comentários aqui, inclusive você, aqueles que perdem a memória nunca tiveram qualquer discernimento. Obrigado pelo belo complemento ao artigo, Fernando.

  3. Cadê a Empresa Municipal de Coleta de Lixo? Cadeeas 70 creches? Cadê a grande escola tecnica municipal? Cadê a passagem a 1, 50? E ele não é mentiroso?

    1. Sem dúvida, Leonardo. Neste artigo foquei na análise, mas em outros usei adjetivos piores que “mentiroso”.

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