Prisão para comemorar

Foto: André Dusek/Estadão
Foto: André Dusek/Estadão

Através do Supremo Tribunal Federal (STF), o Brasil colocou na cadeia, pela primeira vez na História, um Senador da República em pleno exercício do mandato. Delcídio Amaral é o nome dele. Quando a lavagem jurídica do país se consolidar e percebermos um país diferente, sério, Delcídio será lembrado nas comemorações entre amigos, nas esquinas e nos bares, sob risos e alegria.

Líder do governo Dilma no Senado, Delcídio Amaral é acusado, com provas suficientes, de obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, que já prendeu outros políticos e empresários criminosos protegidos por conluios e propinas, antes inatingíveis. O senador liderava também uma corja maquiavélica, que incluía André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, Edson Ribeiro, advogado, e Diogo Ferreira, chefe do gabinete de Delcídio. Todos estão devidamente presos por tentarem calar a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras.

Experiente na arte do crime político, o bando do Delcídio demonstrou profundo conhecimento sobre as melhores rotas de fuga para bandidos como ele, os meios de transporte e seus modelos mais adequados a cada trecho, como burlar a tornozeleira eletrônica e negociar a participação de autoridades importantes nas suas tramoias. Pretendiam tirar Cerveró do Brasil com tais técnicas e ocultar seus ganhos ilícitos com a exploração da Petrobras, entre outros favorecimentos sujos.

A prisão do senador Delcídio Amaral não merece ser comemorada apenas por seu ineditismo, mas pelo amadurecimento da sociedade brasileira. Coube aos demais senadores, constitucionalmente, votar a favor ou contra a decisão do STF de prender o colega. Estranhamente constrangidos, pois as gravações que provam a imoralidade do parlamentar são claras, mas pressionados pela opinião pública, por 59 votos a 13 Delcídio foi mantido na prisão. Vitória da seriedade nas instituições, vitória do povo.

Conquista que Renan Calheiros, presidente do Senado, tentou evitar até o último momento ao articular para que a votação fosse secreta. De acordo com Renan, “talvez tenha sido o dia mais doloroso do Senado”, quando votaram sobre o caso Delcídio. Também investigado pela Lava-Jato, o dia foi doloroso porque não pôde livrar das grades um comparsa e evitar um precedente contra ele mesmo.

Outros senadores, como Humberto Costa, votaram pela libertação de Delcídio Amaral e demonstraram preocupação com o “desequilíbrio entre os Poderes” e possíveis danos à democracia. Rejeitam a verdade: quando a atuação delinquente de um parlamentar envergonha a Nação, quem causa prejuízos ao bem-estar popular é ele, não o STF no cumprimento exemplar do seu papel.

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