Sinais da pobreza no cotidiano

Sinais da pobreza no cotidiano

De acordo com o Censo 2010 feito pelo IBGE, a renda per capita média do morador de São Gonçalo era de R$ 669,30. Aproximadamente 31% maior do que o salário mínimo da época, que valia R$ 510. Ano que vem, com o novo Censo, descobriremos se a situação mudou. De qualquer forma, sabemos que o salário mínimo continua não dando pra nada e os sinais da pobreza no cotidiano da população são claros. A falta de renda, moradia, saúde, educação e lazer obriga o gonçalense a se virar para ganhar a vida.

No mesmo ano do último censo, 26,5% dos habitantes de São Gonçalo, com 18 anos ou mais, não tinham o Ensino Fundamental completo e trabalhavam de maneira informal, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Mais de 150 mil pessoas ganhando pouco, sem estabilidade profissional, desamparadas pelo sistema previdenciário e sem perspectiva de melhores condições por causa da baixa escolaridade.

O excesso de camelôs talvez seja a manifestação mais comum da pobreza gonçalense. No verão eles passam o dia de pé, espalhados pelos centros comerciais, suando sob o sol, vendendo água, cerveja e guaravita dentro de um isopor com gelo. Tem vendedor de pipoca, churrasquinho, sacolé. Embaixo do viaduto de Alcântara, vi camelô usando geladeiras com portas de vidro para exibir seus laticínios, como nos supermercados. É a evolução da pobreza.

A gente não se surpreende mais com a falta de emprego e a informalidade. Semana passada eu fiquei chocado por outro motivo. Três crianças sozinhas, descalças, de menos de 6 anos de idade, bateram no meu portão pedindo água. Peguei uma garrafa cheia e os três, um menino e duas meninas, beberam a água toda. Parecia que não bebiam água e não tomavam banho há dias. Como crianças fugindo de países em guerra, na verdade sem conseguir fugir de São Gonçalo. Depois de beberem, sentados na calçada, se levantaram e continuaram sua caminhada pela rua. Para onde? Não sei. Meus vizinhos disseram que são crianças da favela, como se isso explicasse alguma coisa.

No Raul Veiga, bairro vizinho do Vila Três, os jovens passam o dia se drogando à sombra do pé de jamelão do campo Central. Quando querem arrumar uma grana, alguns se levantam e ajudam os motoristas a estacionar seus veículos no estacionamento ali perto, ao lado de um lixão.

São Gonçalo inteira é suja. Podem alegar que isso é culpa do descaso público, mas inclusive o governo Nanci é um sinal de pobreza, pobreza de espírito e de discernimento. Em bairros como Santa Isabel e Sacramento, porcos, cavalos, bois, urubus, pombos e ratos disputam ao mesmo tempo o lixo largado nas esquinas, em plena luz do dia. As pessoas andam pela rua porque não há espaço nas calçadas.

Assim é a segunda maior cidade do Estado do Rio de Janeiro. Os adultos esperando ansiosamente pelo futebol e pelo churrasco do próximo fim de semana, é o mais longe que conseguem sonhar. Uma multidão magra, suada e sem camisa, a maioria negra, gritando no sol “Água é um real!, Guaravita é um e cinquenta!”. As prostitutas e travestis urinando e defecando ao ar livre, no início da noite de Alcântara. As crianças largadas sozinhas pela rua. Os adolescentes se drogando. Os animais brigando por comida no meio do lixo. E os indigentes dormindo em barracas improvisadas, embaixo dos viadutos, afundados na dependência química e no alcoolismo, correndo o risco de serem incendiados a qualquer momento por aqueles que cultivam o ódio.

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