
A Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu que Eduardo de Jesus, menino de 10 anos que morava no Complexo do Alemão, é culpado pela própria morte, ocorrida em abril deste ano. Eduardo foi morto com um tiro de fuzil na cabeça, disparado por um policial.
De acordo com o inquérito, o policial militar que atirou em Eduardo agiu em “legítima defesa”. Talvez tenha se sentido ameaçado pela criança desarmada, a cinco metros de distância, brincando na porta de casa.
Na opinião do Estado, habitam as favelas as falhas da organização social brasileira, aquilo que pode ser livremente eliminado. Amarildo, Cláudia e Eduardo são exemplos. Assassinados por policiais, o corpo de Amarildo desapareceu, Cláudia foi arrastada por 350 metros e a cabeça de Eduardo foi despedaçada.
À Terezinha de Jesus, vendo o filho morto, desesperada, o policial assassino disse que matou o “filho de um bandido” e poderia matá-la também. Vil. Tentou inclusive alterar a cena do crime, mas foi impedido por moradores da comunidade. Matar é a alegria do policial que sobe o morro. Se acerta mulher, arrasta o corpo depois, finge prestar socorro. Criança? Não importa, é aprendiz de traficante. Quando os algozes são inocentados, a vítima é culpada, afinal, a destruição de uma vida humana exige responsáveis.
Não há pena de morte no Brasil e bandidos não merecem ser executados, muito menos seus filhos. O despreparo técnico e psicológico da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro pode ter levado este soldado a andar no Complexo do Alemão, com o dedo no gatilho, e atirar sem pensar ao avistar Eduardo. Sou incapaz de acreditar em ato proposital. A falta de arrependimento, o orgulho por matar uma criança, e o inquérito que o inocenta, no entanto, mostram o quanto as instituições policiais estão doentes.
O povo fluminense não se esforçou o suficiente, ainda, para interromper esta opressão violenta que impõe condições desiguais, dignas nas reduzidas áreas abastadas contra desprezíveis em grande parte do território, desde que o açoite popular, atado ao tronco, se tornou prática comum.