Uma festa que deu certo na Fazenda Colubandê

Há esperança para a Fazenda Colubandê

Mês passado vi um grupo de pessoas comemorando um aniversário infantil dentro da Fazenda Colubandê. Não é todo dia que a gente vê, em solo municipal, gonçalenses sorrindo em meio ao verde, respirando ar puro, e crianças brincando de se jogar na grama (não estou inventando nada dessa vez). Estamos mais habituados ao suor e ao esgoto respingando na batata da perna quando andamos de chinelo no meio da multidão em Alcântara.

O grupo trouxe refrigerante e organizou a comida sobre as mesas de concreto, a maioria quebrada, do lado direito da Capela de Sant’Anna, construída em 1618. É isso mesmo, primeira metade do século 17, há 400 anos atrás. Logo na São Gonçalo do abandono político e da destruição cultural causada pelo radicalismo religioso, é um milagre que a construção esteja de pé e seja possível comemorar um aniversário de graça dentro de uma fazenda do período colonial. Abandonado, saqueado e sujo, mas um marco da arquitetura colonial brasileira e oficialmente patrimônio histórico e cultural nacional.

As pessoas estenderam toalhas, como num piquenique, para sentar no chão e comer embaixo da sombra das árvores. As crianças jogaram bola e soltaram pipa com os pais. No final da festa o grupo recolheu todo o lixo e o ensacou. Dizem que o gonçalense é mal educado mas não esse grupo da Fazenda Colubandê. Se aquelas pessoas foram capazes de catar seu lixo, qualquer gonçalense pode fazer o mesmo.

O problema é que a sacola com garrafas, copos e pratos de plástico ficou enorme e pesada e foi largada ali, encostada no muro da capela. Poderiam ter tentado carregá-la, mas talvez a sacola rasgasse e o lixo seria espalhado no chão (não vi nenhum carro com o grupo).

É aí que o Poder Público deveria funcionar rápido, para que outros gonçalenses possam aproveitar o espaço. A festa foi no dia 11 de agosto e o saco de lixo ficou no local por semanas. Nenhum funcionário da Prefeitura ou do governo de São Gonçalo foi capaz de fazer logo a coleta. Não importa qual esfera de governo tem responsabilidade sobre a gestão do espaço, estamos falando de recolher o lixo de uma das últimas fazendas coloniais em perímetro urbano. No fim de semana passado estive na Fazenda Colubandê, vi a grama dela aparada e que finalmente o saco de lixo tinha sido recolhido.

“No meu plantão, não!”, me disse o vigia da Fazenda Colubandê

Há esperança para a Fazenda Colubandê

– No meu plantão, não!

Desse jeito raivoso Bira me respondeu quando perguntei se os atos de vandalismo contra a Fazenda Colubandê ainda acontecem. Ele tinha uma paixão nos olhos que eu nunca tinha visto por São Gonçalo. Como se uma mãe zelosa gritasse “Com meu filho ninguém mexe!”. Continue lendo ““No meu plantão, não!”, me disse o vigia da Fazenda Colubandê”

O renascimento da Fazenda Colubandê

Geralmente escrevo apenas um artigo por semana sobre São Gonçalo, mas o renascimento da Fazenda Colubandê fez a cidade merecer um artigo extra. A Fazenda estava linda no último fim de semana. Quem não foi, perdeu.

Criada pelo novo prefeito, a linha de ônibus circular que liga a Fazenda aos noventa e um bairros oficiais facilitou o acesso ao local. A passagem custa R$ 1, preço de custo. A família gonçalense compareceu em peso: casais heterossexuais e gays, com e sem filhos; jovens, idosos, crianças, todos se divertiram.

Mais famosa novidade gastronômica nacional, os food trucks foram espalhados pelos quatro cantos da Fazenda, do portão de entrada até o entorno da pista de atletismo. Dispostos desta forma os pequenos caminhões e bicicletas equipadas com baú incentivaram a circulação geral, diferentemente do evento semelhante que ocorreu na praça Zé Garoto em junho, área consideravelmente menor.

O sol forte e o céu limpo tornaram o domingo memorável. Reluzindo, pintada e de grama aparada, a Fazenda Colubandê deixava o céu e o sol ainda mais belos, não o contrário. O brilho da alegria no ar ofuscava. Nem de longe lembrava aquele imóvel decadente onde vândalos urinavam, defecavam e largavam camisinhas usadas. O melhor ponto turístico gonçalense precisava de um pouco de respeito, carinho e atenção, nenhuma reforma profunda foi necessária.

Enquanto apreciavam seu lanche preferido sentados à sombra num dos característicos banquinhos de madeira rústica, os pais deixavam os filhos aos cuidados dos monitores para um passeio pelo complexo com direito à aula de História. O circuito incluía o orquidário, espaços de convivência, a capela, a sede e seu subsolo, onde no passado existiu uma senzala.

Como fazem há anos, o Recicla Leitores distribuiu livros de graça. Um charme a mais ver obras literárias espalhadas no chão, em vez de copos plásticos, e dezenas de crianças empolgadas em volta, ao pé da palmeira gigante.

São Gonçalo num imenso piquenique, tantas eram as toalhas espalhadas pela grama verde. Crianças desciam as rampas de bicicleta e patinete, adolescentes conduziam patins. A pista de atletismo transbordava de corredores. Os times de basquete e vôlei aguardavam em fila sua vez de jogar diante das quadras lotadas.

Treze grupos musicais do município se apresentaram ao lado da capela. Depois das quadras, próximo à cantina, havia silêncio suficiente para conversar ou namorar.

Comi um hambúrguer gigantesco tomando chopp artesanal sentado embaixo de uma árvore. Meu filho brincava com dois novos amigos que tinham levado linha e pipa pra soltar. No final da tarde, suado e cansado, quase pulei na piscina mas a reformaram exclusivamente para as crianças, grande injustiça. Na Fazenda Colubandê restaurada falta somente uma piscina para adultos.