Os Estados Unidos bombardearam um hospital na cidade afegã de Kunduz, matando pelo menos 22 pessoas, entre elas médicos e pacientes, inclusive crianças. Seja no Afeganistão ou no Rio de Janeiro, o conflito armado conduz inevitavelmente à derrota moral.
O bombardeio intencional, autorizado pelo alto comando militar americano, destruiu a única referência na região para tratamento de traumas graves, como os causados pela explosão de minas terrestres. Pacientes que não podiam se locomover foram queimados vivos sobre as macas, médicos que tentavam salvá-los também eram assassinados, enquanto as bombas caíam sem cessar.
A localização do hospital era amplamente conhecida, tanto pelo Exército americano, quanto pelo governo afegão, unidos no combate aos talibãs pelo controle de Kunduz. Ainda assim, após a primeira bomba cair, a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras, diretora do hospital, informou desesperadamente à coalização – suposta protetora da população civil – de que o hospital estava sendo bombardeado. De nada adiantou, os aviões americanos bombardearam as instalações por mais 30 minutos, provavelmente com o intuito de atingir rebeldes fundamentalistas (como indicam comunicados afegãos), cegos pelo ódio que transforma todos em assassinos e despreza vidas inocentes.
Uma semana depois, ainda há desaparecidos nos escombros. Médicos voluntários que deixaram seus países para tratar de pessoas castigadas por batalhas intermináveis pelo poder. Surpreende um país, cujo presidente ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2009, ter deliberadamente exterminado suas vidas.
Os Estados Unidos dizem que erraram. Barack Obama pediu desculpas à Médicos Sem Fronteiras (MSF) e ao povo afegão. É indiscutível que destruir um hospital novo, bem equipado, que não permitia a presença de armas, mas cuidava de todos indiscriminadamente, foi um tremendo equívoco. O Ministério da Defesa Afegão alega que combatentes do Talibã usavam o prédio como escudo, a MSF nega, diz que lá estavam apenas a equipe médica e pacientes. Ainda que Satanás comandasse o hospital, o ataque não deixaria de ser criminoso. Não se explode vidas humanas. Uma investigação independente e o julgamento imediato dos mandantes desta tragédia é a única resposta possível.