Por que milhões de brasileiros ainda amam Lula

Por que milhões de brasileiros ainda amam Lula

Milhões de brasileiros continuam amando Lula porque seu governo priorizou o combate à pobreza e não existe prova de que seja um criminoso.

Na pesquisa do instituto Datafolha divulgada dia 26 de junho, 30% dos entrevistados declararam intenção de votar em Lula para Presidente da República em 2018. Trinta por cento dos eleitores brasileiros equivalem a aproximadamente 43,2 milhões de pessoas. Embora Lula seja réu em cinco processos, apesar de ter sido conduzido à força para depor no aeroporto de Congonhas, ano passado, e da perseguição sensacionalista da imprensa que começou bem antes disso.

Anunciada dia 12 de julho, o impacto da condenação do ex-presidente sobre as intenções de voto ainda não foi avaliado, mas provavelmente não reduzirá o entusiasmo que os eleitores de Lula, sabendo dos obstáculos de sua trajetória política, demonstraram há menos de um mês.

Lula confirmou sua pré-candidatura para 2018 no pronunciamento após a sentença. Durante a transmissão ao vivo pelo Facebook, um homem fez um comentário interessante:

– Eu não ia votar no cara, mas estão tentando prender um inocente. Agora vou votar nele.

Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro “a nove anos e meio de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá”. Desse jeito raso, mas em letras garrafais, comemorou no seu site o jornal O Globo, um dos maiores do país. O restante da matéria citou depoimentos e documentos extraídos da condenação oficial e trouxe uma cronologia gráfica desde 2003, quando a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo lançou o condomínio Solaris no Guarujá.

A cronologia e a citação dos documentos e depoimentos, chamados de provas mas que ganharam um sentido conspiratório na condenação, foram reaproveitadas em outras notícias sobre Lula nos portais de jornalismo da Globo. Exatamente o mesmo conteúdo, copiado e colado, com somente uma linha introdutória de diferença. Com a mesma falta de profundidade, usando uma hipótese criada por ele e jamais provada, Moro divagou em 238 páginas.

O tamanho de uma obra não indica o quanto seu conteúdo é importante. Há livros de enorme influência mundial com pouco mais de 100 páginas, como Do Contrato Social, de Rousseau. Não achando na sentença nada que afirmasse que o tríplex pertenceu a Lula, os jornais reproduziram fetiches do juiz, como elogiar o ex-presidente, compará-lo a Richard Nixon e citar com ironia ditados populares escritos em Inglês. Vaidade intelectual e soberba que contribuem para a construção do falso contexto no qual Lula é culpado.

A Lava Jato teve conquistas significativas. E deslizes. Eduardo Cunha, Sergio Cabral, Marcelo Odebrecht e Eike Batista na cadeia, entre outras figuras assumidamente corruptas, não é de se jogar fora. Contudo, a condenação de Lula está entre as falhas imperdoáveis da Operação. Sem um documento definitivo de propriedade do tríplex, milhões de pessoas não deixarão de amar o ex-presidente.

Lula equilibra o Brasil. Ninguém ignora que a Política é uma briga de forças que pode invadir a Justiça. Os indicadores socioeconômicos desde que Lula foi presidente dizem que a força ao lado do trabalhador e da igualdade social é ele.

Até hoje nenhum presidenciável abre mão de ter o Bolsa Família, instituído no primeiro governo petista em 2003, entre suas propostas de distribuição de renda. Ideias inteligentes também rendem votos. E as políticas de inclusão educacionais dos anos seguintes trouxeram cores e classes diferentes às universidades públicas que as tornaram consideravelmente mais alegres.

Reduzir o peso da opressão sobre a história brasileira é uma grande razão para ser amado.

A Justiça deu lugar ao oportunismo

Desde que Lula se tornou alvo explícito da Operação Lava-Jato, seus adversários – honestos ou não – são beneficiados pela publicação intensa de investigações ainda imaturas sobre o ex-presidente e vazamentos precipitados de escutas telefônicas. Abandonando a imparcialidade, a Justiça deu lugar ao oportunismo político.

Embora não condenados, Lula e Dilma são encarados por parte da população, municiada diariamente pelo sensacionalismo tendencioso da imprensa, como patrocinadores da corrupção nacional, os “chefes do esquema”, aqueles que devem pagar agora, já, com prisão e impeachment. Não é o mesmo equilíbrio judicial, preciso, que prendeu grandes empresários e um senador em exercício habituados a usar o país como moeda de troca.

Enquanto o Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam indícios de que Lula recebeu vantagens indevidas de empreiteiras envolvidas no Petrolão, há delações e documentos incontestáveis que provam que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, guardou sua parte roubada da Petrobras em contas na Suíça. Livre e solto, gozando relativo relaxamento por parte da opinião pública, Cunha conduz na Câmara o pedido de impeachment por crimes de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff. Aproveita idêntico conforto o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, maior opositor ao governo federal e principal beneficiado pela queda de popularidade dos governistas. Aécio foi citado em pelo menos três delações premiadas, sendo a última do senador licenciado Delcídio do Amaral, como participante de falcatruas na estatal Furnas e destinatário de propinas pagas pela empreiteira UTC.

Dividiu o Brasil em dois lados previsíveis o desequilíbrio do Judiciário aliado à velocidade de transmissão de informações da atualidade, frequentemente veiculadas por redes de comunicação controladas pelo mesmo conservadorismo. Raposas velhas do Congresso, oportunistas, igualmente conservadoras, perceberam a hora ideal para atacar.

Movidos por instinto de sobrevivência, Dilma e o Partido dos Trabalhadores tomaram a deprimente decisão de nomear Lula como ministro da Casa Civil, alguém que foi Presidente da República por 8 anos e jamais deixou de influenciar sua sucessora. Tentam mantê-lo no posto, após seguidas suspensões de posse, com o intuito de formar uma trincheira à esquerda, confirmando a inaptidão da presidente Dilma para gerir crises, tanto econômicas quanto políticas.

A Lava-Jato produziu mais frutos no combate à corrupção do que qualquer outra operação na história do Brasil, independentemente da pressão do povo nas ruas pedindo as cabeças dos investigados (resultante do vergonhoso circo midiático). A Política adora a comédia circense, principalmente quando o palhaço no centro do picadeiro é adversário antigo. À Justiça não cabe incentivar nem aplaudir espetáculos.

Jornais conduzidos à vergonha

Nas suas versões online, os dois maiores jornais brasileiros em circulação, Folha de São Paulo e O Globo, destacaram a condução coercitiva de Lula como se fosse o fim esperado de uma longa guerra sangrenta quando não corresponde nem à sentença final de um processo jurídico criminal. Algo diferente do Jornalismo, essencialmente imparcial, produziu histérica euforia nos veículos e envergonhou a imprensa brasileira na última sexta-feira (04/03).

Lula foi presidente do Brasil por oito anos, entre 2003 e 2010, e até hoje é a voz mais cativante da política nacional, capaz de mobilizar multidões. Ao se tornar um dos onze alvos da 24ª fase da Operação Lava-Jato, o ex-presidente ocupou metade dos sites dos jornais associado a suposições inúmeras ainda não completamente investigadas, causando no leitor tédio pela mesmice previsível e indignação contra a ausência de informações honestas. Folha e O Globo agiram como uma criança de 1 ano de idade com um brinquedo novo, a Polícia Federal batendo na porta da casa de Lula, e o babaram, morderam e jogaram o brinquedo para o alto; se possível, soltariam fogos de artifício na Internet.

Na mesma data, atualizando seu portal a cada minuto (adotando idêntico sensacionalismo vago da Folha), O Globo publicou como principal destaque uma notícia que dizia “Há evidências significativas de que Lula se beneficiou do Petrolão, diz MP”, contudo, ao clicar no link da notícia nenhuma evidência era encontrada, mas um conto de fadas, história chata sem validação jurídica, a condenação pela própria notícia, matéria vazia cuja menor consequência é a confusão plantada na cabeça do leitor incauto.

Pesa contra o ex-presidente a hipótese investigativa de que empreiteiras envolvidas no Petrolão são as maiores doadoras do Instituto Lula e grandes contratantes de suas palestras e eventos. O Ministério Público Federal continuará as investigações, e que os jornais evitem a indignidade de festejá-las insistentemente.

A cobertura online do jornal El País foi justa: a manchete na manhã do dia 4 deste mês era a condução à força para colher depoimentos de 11 suspeitos de envolvimento no Petrolão, com atualização mais consistente, embora menos frequente, e obviamente citava Lula por sua importância política, mas o site não ignorava os demais acontecimentos envolvendo a Operação Lava-Jato, na Saúde e na Economia relevantes para o país.

Pessoas comuns – pobres não beneficiados pelo Petrolão – são conduzidas diariamente à força pela Polícia das favelas à delegacia, não raro à morte, como o pedreiro Amarildo. Prejudicam a sociedade brasileira os meios de comunicação acusadores e precipitados que dos oprimidos se esquecem por pelo menos um dia.