Uma cidade inacessível

Os maiores guerreiros gonçalenses, que dia após dia se esforçam mais do que qualquer pessoa para sobreviver neste território inóspito parasitado pela classe política, são os portadores de necessidades especiais. O governo municipal deve a eles mais do que infraestrutura e acessibilidade, algo que jamais tiveram: reconhecimento.

De acordo com o último censo divulgado pelo IBGE, realizado em 2010, apenas 4% dos domicílios gonçalenses estão localizados em ruas com rampa de acesso para cadeirantes, item fundamental para garantia do amplo direito de ir e vir. No município brasileiro mais avançado neste aspecto, Jaguaribara (CE), o índice é de 75%.

Ainda em 2010 o IBGE apurou que 55.820 residentes na cidade de São Gonçalo possuem alguma dificuldade motora. Marice Dias, leitora do Sim São Gonçalo e irmã do Gecélio, portador de necessidades especiais, enviou a seguinte mensagem ao canal:

– A Rua Júpiter no Bandeirantes está largada após a prefeitura fazer obras de manilhamento, na promessa de um asfaltamento. Até hoje não há sinal de asfalto e a rua está tomada de esgoto à céu aberto. Pode nos ajudar registrando este descaso? Meu irmão é cadeirante e é impossível locomovê-lo nestas condições.

Gecélio tem 39 anos e mora a vida inteira na mesma rua de terra batida do Bandeirantes, onde a lama e o esgoto frequentemente se misturam e formam uma massa estranha, odiosa, dejeto do descaso público histórico. Portador de necessidades especiais causadas pela hidrocefalia, Gecélio nunca foi ao supermercado do bairro ou à academia, que fica a menos de 100 metros da sua casa. Os buracos enormes, as longas valas e fissuras na rua, que já quebraram a cadeira de rodas doada pela Associação Pestalozzi de Niterói, o impedem.

Quando Marice visita o irmão nos fins de semana e o ajuda a vencer os obstáculos, seu passeio preferido é ir à praça do Bandeirantes para ver o movimento de pessoas e veículos. Nos dias chamados de “úteis” mas tediosos para Gecélio, ele fica preso em casa na companhia da mãe, idosa, incapaz de sozinha ajudá-lo na locomoção.

Segundo o jornal O São Gonçalo, mês passado o governo Mulim deu “o pontapé inicial para a implementação do Plano de Acessibilidade do Município de São Gonçalo”. A previsão é que o plano entre em vigor antes do fim deste ano, mas só Deus sabe. Neilton Mulim assumiu a Prefeitura há mais de 3 anos sem qualquer projeto por mais qualidade de vida para gonçalenses como Gecélio e agora, em conluio com o jornal, no último ano de governo, ano de eleições municipais, anuncia um engodo claramente eleitoreiro.

Os responsáveis por manter São Gonçalo inacessível, toda a corja burra e inútil das secretarias e os hipócritas da Câmara que fingem defender a cidade mas viram as costas para o povo, eles seriam seres humanos melhores se passassem um dia de muletas ou sobre uma cadeira de rodas. Teriam que sofrer, muito, para atravessar a rua em direção ao habitual rodízio de carnes no restaurante preferido, pago com dinheiro público.

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